Conheci o Jones pela internet, num site de relacionamentos daqueles que promete e promete e você duvida da eficácia.
Numa segunda-feira de junho resolvi verificar as inúmeras notificações de um site de relacionamento que eu e minha amiga resolvemos nos inscrever tempos antes. Fazia mais de três meses que não via aquilo e não sei porque decide ir xeretar a minha caixa de spam ao invés de simplesmente apagar. Naquela rápida olhadela o nome do Jones se destacou. Afinal era parecido com o meu. Imagina "Janis e Jones"?! Abri o perfil. Hum ... "novinho, mas gatinho na foto". Hum ... "professor de química". 26 anos ... "é não é tão novo assim". Avaliações feitas fui enviar a minha mensagem.
"404 ERROR! Impossível enviar a mensagem, o perfil selecionado não é compatível com o seu."
Como assim?! O cara me envia uma mensagem e eu não posso retribuir?! Jurei pela minha honra que iria burlar o sistema. Ainda bem que cumpri, pois conheci o cara mais gentil e maravilhoso humanamente possível (sim é clichê!)
Jones é simples e altruísta. Daquelas pessoas que você sente prazer em conhecer. Em sentar em um bar calmo e conversar durante horas. O ritmo dele é o embalo calmo da marolinha da Guanabara.
Enviei a mensagem e ele respondeu. Nova mensagem, nova resposta e de repente nos vimos num ritmo alucinado de digitação, de pensamentos e emoções que decidimos falar pelo telefone no outro dia.
"Alô aqui o Jones!" Hum ... Que voz fina!!!! Mas tudo bem, mente aberta, eu pareço uma criança birrenta no telefone. Conversa vai e conversa vem quando entramos no tema da Distrofia Muscular de Becker. "Você tem o que?" Fiquei tentando decifrar esse nome enrolado na minha cabeça enquanto ele ia explicando sumariamente o que era. Confesso que na hora não entendi muito bem e nem mesmo a ficha caiu. Perguntei se usava cadeira de rodas e ele negou dizendo que usava bengala. Não sei se meus pais me educaram bem, se minha formação foi realmente desprovida de preconceitos (não nego que tenha pensamentos deste tipo afinal eles estão muito enraizados na nossa cultura), mas não enxerguei a tal bengala, ao contrário de outras pessoas que conhecemos posteriormente onde viam o objeto se destacando mais que o dono. Certa vez revi um colega de faculdade e apresentei o Jones, que estava sentado ao longe, como "aquele de chapéu". Ele só viu a bengala. Não é incomum ouvirmos um "devagar e sempre se chega lá", "isso, subir a escada é melhor que fisioterapia", ou vermos a cara feia das pessoas quando ele entra nos transportes públicos.
Para mim Jones é uma pessoa normal como outra qualquer. Sua bengala é apenas um utensílio, algo que facilita a vida, assim como um dia será a cadeira de rodas. Os inconvenientes acontecem, mas ver a beleza além e através deles é que faz o Jones ser um cara tão especial. E aqui faço um adendo: isso não é uma característica única da pessoa em questão. Através dele, conheci pessoas com deficiência que tinham a mesma paixão pela vida.
O sonho do Jones é voar e ele disse isso no primeiro encontro. Encontro engraçado porque nem tinha acabado de me cumprimentar e ele caiu no chão. Coitado estava tão cansado. Foram três quedas naquele dia, uma subida num ônibus, uma espera numa fila gigantesca, uma exposição engraçada e o beijo mais gostoso que recebi. Foi um encontro e tanto que dura até hoje.
Estamos "casados" há quase um ano. Casados não oficialmente (algo a ser corrigido em capítulos futuros), mas ele resolveu vir morar comigo também para cuidar de mim, já que me recupero de problemas de saúde e algumas licenças médicas. Brigamos, conversamos e nos conhecemos, como qualquer casal. Viajar se tornou nosso hobbie e foi numa dessas viagens (no qual Jones finalmente voou) que tivemos a ideia do blog. Pretendemos mostrar como se mover pela cidade e por outros lugares sem gastar muito. Como somos pobres vamos mostrar as opções populares de locomoção e viagens. Pensamos nas bengaladas, nas cadeiradas e todas as adas possíveis em nossas andanças por aí. Tentaremos transmitir as boas vibrações que possuímos e daremos dicas importantes impulsionando o lazer da pessoa com deficiência.
Conhecer o Jones me fez conhecer uma nova cidade dentro da qual eu vivia há 30 anos. Quantos elevadores do metrô você conhece? Onde estão? Qual ruas são menos acidentadas? Quais tem rampas? Você sabia que uma rampa de mais de 40º de inclinação é impossível de subir sozinha na cadeira de rodas? (Eu testei). Quais estações do trem possui elevadores? Quais as escadas rolantes estão funcionando? Porque o trem não é adaptado? Serão esses questionamentos que propomos a discutir com vocês. Sejam bem vindos e embarquem conosco.
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